O desenvolvimento não pode ser uma continuidade da introdução.
Esses dois têm uma relação íntima, mas independente. Como assim? Isso significa que, ao começar o desenvolvimento, é como se estivéssemos começando o texto novamente. Nunca devemos iniciá-lo com os termos:Por causa disso…
Com isso…
Baseado nisso…
Dessa maneira...
Dessa maneira…
Podemos fazer um teste simples para ver se o desenvolvimento está sendo uma continuidade da introdução. É o seguinte: se cortássemos a introdução fora, o texto ficaria sem sentido? Se a resposta for sim, fizemos uma dependência entre eles.
Vamos ver isso com um exemplo. Digamos que a introdução do capítulo anterior continuasse com um desenvolvimento:
TEMA: O Chocolate no Mundo Moderno
“Chocolate faz bem à humanidade. Porém, apesar de trazer benefícios, seu consumo em excesso pode trazer prejuízos.”
(introdução)
“Considerando isso, é importante estar atento às quantidades consumidas de chocolate. A dose diária recomendada é alvo de discussões entre nutricionistas, dado que os benefícios do cacau são contrabalançados com os malefícios do açúcar.”
(desenvolvimento)
Experimente ler somente o desenvolvimento separado da introdução.
Repare que o texto ficou completamente sem sentido.
O leitor que pegasse essa “redação” ficaria pensando “considerando isso o quê?”. Então esse teste acabou de revelar que esse desenvolvimento foi mal construído.
Agora observe o que aconteceria se apenas retirássemos fora o “Considerando isso” do desenvolvimento, sem alterar mais nada no texto:
“Chocolate faz bem à humanidade. Porém, apesar de trazer benefícios, o seu consumo em excesso pode trazer prejuízos. É importante estar atento às quantidades consumidas de chocolate. A dose diária recomendada é alvo de discussões entre nutricionistas, dado que os benefícios do cacau são contrabalançados com os malefícios do açúcar”.
Bem melhor, não? Se fizéssemos aquele teste agora, ficaria claro que o texto poderia começar com o desenvolvimento sem problemas. Isso é um sinal de que o parágrafo do desenvolvimento consegue sobreviver sozinho.
APRENDA A CORTAR O QUE NÃO INTERESSA
Esse exemplo foi útil porque muitas pessoas não conseguem começar um desenvolvimento sem usar esses termos: “Considerando isso”, “A partir disso”, etc. Então, se esse é o seu caso, comece seu desenvolvimento normalmente e risque fora esses termos depois que tiver terminado. Você vai ver que eles não vão fazer nenhuma falta.
Agora que já aprendemos que o desenvolvimento precisa “sobreviver sozinho”, precisamos ter uma atenção especial em uma coisa: a chamada “ligação entre as frases”.
Você sabe qual é a diferença entre um texto e uma receita de bolo? Uma receita é cheia de frases soltas, enquanto que um texto apresenta uma conexão entre elas. E o que precisamos fazer para evitar que nossa redação pareça uma receita? Utilizar os chamados nexos oracionais. Eles são as conjunções (mas, porém, portanto, etc.). Essas conjunções vão nos ajudar a manter o texto bem compactado.
Repare nesse exemplo:
“Estava frio. Levantei cedo. Precisava ir para a aula. Foi um esforço. Valeu a pena. Finalmente aprendi a matéria.”
Vamos estabelecer uma conexão entre as frases:
“Apesar de estar frio, levantei cedo, pois precisava ir para a aula. Isso foi um esforço, mas valeu a pena, já que finalmente aprendi a matéria.”
Agora já está parecendo mais um texto, concorda? Cuide para nunca deixar uma frase solta, dando a impressão de ter surgido do nada.
Esse aspecto parece bem básico, mas é essencial. Faz parte dos detalhes que muita gente até sabe, mas não coloca em prática. Nosso objetivo aqui é nunca esquecer essas coisas “básicas”, pois elas são uma espécie de fundamento em que temos que nos apoiar. Ler isso tudo várias vezes é bom para gravar, para que se torne algo automático nas nossas escritas.
Mostraremos um exemplo de desenvolvimento agora para você ver isso tudo que foi ensinado nesse capítulo na prática.
A introdução está no primeiro bloco/parágrafo, e o desenvolvimento está dividido em 3 parágrafos. Não colocamos aqui a conclusão, pois ainda não entramos nesse assunto. Vamos abordar apenas o desenvolvimento, sua construção e a argumentação utilizada:
TEMA: A Presença da Agressividade no Comportamento Humano
"Presente nos mais diversos campos de ação, a agressividade acompanha os passos do homem desde a sua existência, influenciando, diretamente, os seus atos. Esse comportamento, manifestando-se de várias maneiras, continua questionável, uma vez que suas consequências não agradam a todos.
A humanidade primitiva conseguiu se desenvolver à medida que o seu domínio sobre os instrumentos de combate aumentava. A sobrevivência do mais forte, ainda hoje, é uma realidade que define o destino da vida, fruto da competitividade que – aliás – sempre existiu. As atitudes agressivas, que garantiram a permanência da espécie humana, são utilizadas, atualmente, por pessoas que querem superar seus adversários a qualquer custo. Nicolau Maquiavel, com sua teoria, influenciou reinos e países a conseguirem o progresso. Evidentemente, existem controvérsias quanto a essa ideologia, dita por muitos como antiética, que – inclusive – é ensinada em cursos como os de administração de empresas, por exemplo.
Entende-se por agressividade qualquer ação que pretende danificar algo ou alguém. É compreensível, portanto, que a ela sejam atribuídas características negativas (solução imoral, recurso deplorável). Esse comportamento precisa ser evitado para que se obtenha uma personalidade pacífica e cortês (ideal para um relacionamento). Na política, por exemplo, é constante a violência verbal, às vezes também física, dos candidatos ao governo, fato que faz a população ter uma aversão a essas atitudes, consideradas falta de controle emocional de quem as pratica. Segundo estudiosos, o que ocasiona esse procedimento de “ataque” é a inconformidade com a situação. Intrigante, porém, é o fato de um comportamento hostil como esse ter o poder de fazer alguém atingir o sucesso. Afinal, ele é ruim até que ponto?
Em âmbito competitivo, agressividade é sinônimo de determinação, que ajuda as pessoas a alcançarem seus objetivos. As constantes manifestações com as quais o homem convive contribuem para a reprodução desse comportamento quando se toma como exemplo o retrospecto dos bem-sucedidos para trabalhar em uma empresa é preciso ter atitude, o que explica o fato de empresários contratarem indivíduos de caráter ofensivo quanto a negócios e comércios em geral. Em uma partida de xadrez, o jogador mais agressivo geralmente vence, pois obriga o adversário a permanecer na defensiva, restringindo – cada vez mais – as jogadas do oponente e posicionando-se para dar o esperado xeque-mate. Isso tudo prova que ambição e coragem de atacar são importantes, e talvez até essenciais, para a realização de metas e a superação de desafios."
Antes de tudo, repare o desenvolvimento não começou com “Por causa disso”, “Com isso”, etc. Já ensinamos o porquê disso. Olhando para a estrutura, a primeira frase da introdução foi inteiramente explorada no primeiro parágrafo do desenvolvimento. Foi dito que a agressividade acompanha os passos do homem desde a sua existência, influenciando seus atos. Nesse parágrafo, o autor falou sobre a agressividade do homem primitivo, a sobrevivência do mais forte e depois trouxe exemplos mais recentes (o ensino do pensamento de Maquiavel nas universidades).
Além de ter explorado corretamente a primeira frase da introdução nesse parágrafo, o autor usou argumentos fortes e convincentes, o que é muito importante em um texto dissertativo argumentativo. A segunda frase da introdução foi desenvolvida em dois parágrafos. Foi dito na introdução que a agressividade se manifesta de várias maneiras, continua questionável e suas consequências não agradam a todos.
Sobre as “várias manifestações da agressividade”, o autor provou isso mostrando a ação da agressividade nos relacionamentos e na política; e, no terceiro parágrafo, mencionando sua ação nos negócios e no xadrez.
Sobre “não agradar a todos”, o autor explicou o motivo disso logo no início do segundo parágrafo. E sobre “ser questionável” o autor mostrou (no terceiro parágrafo) os benefícios que a agressividade pode trazer.
Além de ter uma estrutura muito boa, ficou claro que esse texto está muito bem argumentado. É exatamente isso que os corretores querem: argumentações organizadas e estruturadas. Construir isso sem erros de português faz sua redação ser uma forte concorrente a tirar nota máxima.
* Após ler sobre o desenvolvimento adequado de uma redação, pegue a sua introdução da redação da aula anterior e continue. Construa seu desenvolvimento do tema que escolheu na última aula.
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